País da tarde,
a que se deve esta demora?
Que luz é esta
que não vem de dentro nem de fora?
Que presença é esta
que está até chagarmos
depois vai embora?
Os meninos fechados
num ponto final
ou os olhos dos meninos
há muitos anos mortos
e ainda com brilho.
De tanto esperarem
são aquilo onde ficaram.
País da tarde,
em que direcção estamos parados?
Recitam distâncias
dantes eruditas
as luzes de néon enlaçados no corpo
e as avenidas alongam-se
até desaparecerem nas dunas.
País da tarde
a quantos metros estamos do deserto?
(...)
País da tarde,
quantos mais anos são precisos
para passar o que passou?
Há alusões e vestígios
que os comparam ao que são.
As ideias favoráveis
são lacónicas
e ensinam umas às outras
uma exactidão nova
portátil e breve.
A face sísmica do século
reduziu a memória
a um texto curto:
agora é só fazer como se escreve.
Boaventura de Sousa
Viagem ao Centro da Pele
Edições Afrontamento, 1995
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