Soletro as mãos em palmas:
mão ante mão, palmeio o branco do linho
até pousar no busto do teu silêncio.
Continuo a sonhar,
deixando enrolar os dedos nos
novelos de seara que desleixas
e sigo ao vermelho dos teus lábios
saltitando
cada textura que me enerva o sentido.
Não acordo a tempo
de confirmar uma ausência de décadas;
persigo esse corpo, que
cristalizou em forma de presente.
Antes de repartirmos, lençol e ele
- em tudo meeiros,
juraras concordar com
a minha certeza d’amor eterno,
este que dura
entre o decesso e a ressurreição do sol
e se completa
com o gesto eterno de um momento.
Prossigo o sonho
pressinto o dia,
alvorece.
E entrego-me a sombras
que te podem confundir com o desejo.
Quando desce à terra o onírico passo
é pesadelo de brusquidão de dia
e
se insisto no braço já dormente
dez anos são o tempo justo de um vazio no linho.
Adivinho
e
rogo que o sonho me apodere;
se Deus quiser, se eu souber
dormirei no teu uníssono a vida toda,
inteira medida
de não acordar a tempo:
por um momento a eternidade gela
e dormita junto do teu corpo.
Um beijo, bela.
(27.06.2009)
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3 comentários:
Belo
Belo sonho. Belo texto. Bela vontade de sonhar.
Palmear o branco do linho para enrolar os dedos nos novelos de seara que ela desleixa e não acordar a tempo de confirmar uma ausência de décadas, é de mestre...
Continuo à espera do grande dia, em que terei um livro na mão.
Uma boa continuação.
Muito bonito
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