Não nos deixeis cair na curiosidade dos outros,
Na piedade dos outros ou, pior, de nós mesmos.
Livrai-nos de sermos eternamente jovens,
Mas também nados-velhos, mortos-vivos.
Livrai-nos sobretudo de nos jactarmos.
Não nos deixeis cair nas ciladas
Daqueles que só se desculpam ou nunca se desculpam.
Não nos deixeis cair na tentação de corrigir a vida
Quando tantas coisas nos morrem
E morrem às nossas mãos ou pela nossa memória.
Livrai-nos de falarmos em nome dos outros,
Dai-nos cada dia a lembrança de também sermos outros
E não nos perdoeis nunca se o esquecermos.
(primeiro poema de Últimos Poemas - edições quasi, Maio de 2009 - livro com prefácio de Joana Matos Frias e ilustrações de Rasa Sakalaite, onde se reúne a poesia de Nuno Rocha Morais, poeta nascido no último dia de 1973 e falecido em 8 de Junho do ano passado, ainda na idade em que morrem aqueles que os deuses amam)
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