A verdade está na língua ou no ventre dos espelhos?
A verdade é o que responde às perguntas dos príncipes?
Qual é então a resposta à pergunta dos oleiros?
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Se levantares uma túnica encontrarás um corpo mas não uma pergunta:
para quê as palavras enxutas em cíngulos ou as construídas em esquinas imóveis,
as convertidas em lâminas e, em seguida, despojadas e ávidas?
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Ou melhor: alguma vez fui cínico como asfalto ou pelame?
Não se trata disso, apenas que o asfalto possuía a minha memória e as minhas exclamações relatavam a perdição e a inimizade.
A nossa sorte é difícil reclusa na beladona e nos recipientes que não devem ser abertos.
Sujo, sujo é o mundo, porém respira. E tu entras no quarto como um animal resplandecente.
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Depois do conhecimento e do esquecimento que paixão me concerne?
Não hei-de responder mas sim reunir-me com tudo o que está oferecido nos átrios e na distribuição dos resíduos,
com tudo o que treme e é amarelo debaixo da noite.
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Antonio Gamoneda, Descrição da Mentira
(Prémio Cervantes, 2006 - tradução Vasco Gato)
Foto da capa do livro (autoria Kenn Kiser)
4 comentários:
Muito belo o texto, e muito bela a foto.
A foto faz parte da capa do livro, muito bela, de facto.
edições quasi (2003), K, fábrica mutante /sobre fotografia de kenn Kiser
Antonio Gamoneda nasceu em Oviedo em 1931 e vive em Léon desde 1934. é uma grande voz da poesia espanhola. Foi prémio nacional de Poesia, Prémio castilla e Léon das letras e Prémio Cervantes.
Em Portugal, além da Descrição da Mentira, a Quasi Edições publicou Ardem as Pedras e a Assírio & Alvim O Livro do Frio
Obrigada, Augusto, gostei de saber, gostei do texto e dos títulos dos livros.
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