Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente!
A vida não está fácil para os poetas. Em rigor - e pelo que se vê, mesmo que muitos conheçam a poesia e poetem - ninguém sabe dizer os seus nomes, ninguém sabe escrevê-lo. Há dias alguém dava conta de um diálogo entre Pessoa e Teixeira de Pascoaes, onde discutiam se valia mais a um escritor ser conhecido ou se ser lido, mesmo que, relativamente aos primeiro, ninguém o tivesse lido. Ambos concordaram que valia bem mais ser conhecido. Será isso que falta? Quem escreve o nome dos poetas?
Espero o sangue que talvez coalhe as imagens do desassossego que tatuaste em mim. O bisturi saiu das promessas com que me disseste liberdade. Não sei se foi mentira, mas revolto-me na resignação do teu silêncio.
Somos o quê de quem?, se apenas vozes roubadas ao mudo mundo do silêncio. Se a cegueira fosse bastante, gritaríamos a espectativa da rebelião, deixaríamos que o eco fosse o plasma dos regressos.Talvez fosse imaginável arriscar uma abraço um palavra, no limite. Com as letras da poesia.
Perdi a memória do nome das palavras quando olhei tempo em demasia a tua liberdade. As sílabas juntas, como s'me inventasse poeta, só fazer esquecer teus arrepios; mas permanece a angústia de ter de construitr um nome por inteiro.
10 comentários:
Com uma letra apenas escreveria poesia
Uma letra gorda e elegante
A transbordar inteira de alegria
Duma alegria estonteante.
Talvez lhe seguisse um ponto final
Vejam bem, afinal
Qual é o mal
De sentir o vento de uma palavra Encolhida
Tão fina como a vida
Mas tão inteira nessa cena
Que seria o meu poema.
Ser poeta...
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca
A vida não está fácil para os poetas. Em rigor - e pelo que se vê, mesmo que muitos conheçam a poesia e poetem - ninguém sabe dizer os seus nomes, ninguém sabe escrevê-lo. Há dias alguém dava conta de um diálogo entre Pessoa e Teixeira de Pascoaes, onde discutiam se valia mais a um escritor ser conhecido ou se ser lido, mesmo que, relativamente aos primeiro, ninguém o tivesse lido. Ambos concordaram que valia bem mais ser conhecido. Será isso que falta? Quem escreve o nome dos poetas?
Como se escreve poeta.
Com o primeiro Pê
escrevo porto,
local de onde
parto em viagem.
Com o Ó, escrevo
ovo,
princípio,
princípio obscuro
de todos nós.
Com o É, escrevo
erva,
fim
de muitos de nós.
Com o tê, escrevo
tempo,
o tempo
que mede
o infinito.
Com o à, escrevo
amar,
A palavra que
me leva
a ele,
e ao mar!
Poeto com as letras do poeta, neste empréstimo que inventei para a vida. Não, não é despedida nem é meta. É só teimosia de gritar...
Com as polidas cintilações
das ondas eles enredam o mar
e aspam de brancura o voo das gaivotas
Sua íntima atitude
é a das estátuas por fora
Como elas amam sem noções que lhe doam
O ceú foi o seu fundo das pupilas
orto da estrela da manhã
Mas volvidos são das paisagens rumorosas
onde nem o corpo do vento se suprime
os poetas, Sebastão Alba
canto gestos
nos agudos tão garves
dos silêncios.
rasgo traços,
incapaz de um nome.
vou aprender a cantar
as letras que te iluminam,
poeta.
Espero o sangue que talvez
coalhe as imagens do desassossego
que tatuaste em mim. O bisturi saiu das promessas
com que me disseste liberdade.
Não sei se foi mentira,
mas revolto-me na resignação do teu silêncio.
Somos o quê de quem?,
se apenas vozes roubadas
ao mudo mundo do silêncio. Se
a cegueira fosse bastante,
gritaríamos a espectativa da rebelião,
deixaríamos que o eco
fosse o plasma dos regressos.Talvez
fosse imaginável arriscar uma abraço
um palavra, no limite.
Com as letras da poesia.
Perdi a memória do nome das palavras
quando olhei tempo em demasia
a tua liberdade.
As sílabas juntas,
como s'me inventasse poeta,
só fazer esquecer teus arrepios;
mas permanece
a angústia de ter de construitr
um nome por inteiro.
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