sexta-feira, 13 de junho de 2008

Emissário



Emissário de um rei desconhecido,

Eu cumpro informes instruções de além

E as bruscas frases que aos meus lábios vêm

Soam-me a um outro e anómalo sentido...

Inconscientemente me divido

Entre mim e a missão que o meu ser tem,

E a glória do meu rei dá-me o desdém

Por este humano povo entre quem lido...

Não sei se existe o Rei que me mandou.

Minha missão será eu a esquecer,

Meu orgulho o deserto em que em mim estou...

Mas ah, eu sinto-me altas tradições

De antes de tempo e espaço e vida e ser...

Já viram Deus as minhas sensações...

Fernando Pessoa, Passos da Cruz, XIII

1 comentário:

Anónimo disse...

Lindo, muito lindo.