Dizem que tu és pura como um lírio
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu passo aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.
Contam que tens um modo altivo e sério,
Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.
Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
A déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és um molde alabastrino,
E não tens coração como as estátuas.
E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem defeito,
E julgam que é monótono o teu peito
Como o bater cadente dum relógio.
Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces,
És tão loura e dourada como as messes
E possuis muito amor... muito amor-próprio.
Cesário Verde, Vaidosa (1874)
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3 comentários:
Rosa e Lírio:
Para vaidoso,vaidoso e meio!
Sem ofensa,evidentemente!
Deste-me este amor- perfeito
tão singelo, tão primeiro
que me sinto deste geito
desmanchada por inteiro...
A rosa
É formosa;
Bem sei.
Porque lhe chamam — flor
D'amor,
Não sei.
A flor,
Bem de amor
É o lírio;
Tem mel no aroma — dor
Na cor
O lírio.
Se o cheiro
É fagueiro
Na rosa,
Se é de beleza — mor
Primor
A rosa,
No lírio
O martírio
Que é meu
Pintado vejo: cor
E ardor
É o meu.
A rosa
É formosa,
Bem sei ...
E será de outros flor
D'amor...
Não sei.
Rosa e lírio
Folhas Caídas- Almeida Garret
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