segunda-feira, 14 de abril de 2008
Açores
Com os lábios que seguiam no
corpo o desenho das veias
com as veias
que cruzam na carne os nervos
e músculos. Com a mão que
entre os lábios e os dentes
mordiam
aguardavas outra hora do
outro dia do mês outra
vida. Não ouves nem vês
os veios da ilha
a sombra da sua imagem. E
a ordem que te envia
uma parede um muro em ruínas
é o que de melhor encontras
para as tuas palavras -
a voz deste verso ninguém a
conhece.
João Miguel Fernandes Jorge, Um muro em ruínas
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
"Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão."!
Carlos Drummond de Andrade
"A Concha
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.
A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço
Sentado numa pedra de memória."
Vitorino Nemésio
(Poesia, 1935-1940)
Enviar um comentário