"Tu que tens dez réis de esp’rança e de amor Grita bem alto que queres viver. Compra pão e vinho, mas rouba uma flôr: Tudo o que é belo não é de vender. Não vendem ondas do mar, Nem brisa ou estrelas, Sol ou lua-cheia. Não vendem moças de amar, Nem certas janelas Em dunas de areia. Canta, canta como uma ave ou um rio, Dá o teu braço aos que querem sonhar. Quem trouxer mãos livres ou um assobio Nem é preciso que saiba cantar.
Tu que crês num mundo maior e melhor Grita bem alto que o céu ‘stá aqui. Tu que vês irmãos, só irmãos, em redor Crê que esse mundo começa por ti. Traz uma viola, um poema, Um passo de dança, Um sonho maduro. Canta glosando este tema: Em cada criança Há um homem puro. Canta, canta como uma ave ou um rio, Dá o teu braço aos que querem sonhar. Quem trouxer mãos livres ou um assobio Nem é preciso que saiba cantar."
"Porque os outros se mascaram mas tu não Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão. Porque os outros têm medo mas tu não. Porque os outros são os túmulos caiados Onde germina calada a podridão. Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem E os seus gestos dão sempre dividendo. Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos E tu vais de mãos dadas com os perigos. Porque os outros calculam mas tu não."
"Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo. Teus braços são a flor do aloendro. Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo. Teus olhos são da cor do sofrimento. Amor-país. Quero cantar-te. Como quem diz:
O nosso amor é sangue. É seiva. E sol. E primavera. Amor intenso. Amor imenso. Amor instante. O nosso amor é uma arma. E uma espera. O nosso amor é um cavalo alucinante.
O nosso amor é um pássaro voando. Mas à toa. Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa, Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo. O nosso amor é como a flor do aloendro.
Deixa-me soltar estas palavras amarradas Para escrever com sangue o nome que inventei. Romper. Ganhar a voz duma assentada. Dizer de ti as coisas que eu não sei. Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada. Amor-verdade. Amor-cidade. Amor-combate. Amor-abril. Este amor de liberdade."
"de modo trapalhado"...não,de modo subtil,tudo tem um sentido! Ainda assim, agradeço,não só os cravos,mas também,aos quatro quatro autores deste blog-letras,castro,maio,anjos-o privilégio de vos ler!Muito e muito obrigada!!! E hoje,dia muito especial,25 de Abril SEMPRE!!!
13 comentários:
Cantares de Abril na RTP1!FANTÁSTICO
Ou melhor,"Vozes de Abril",desculpem.
Cantiga para quem sonha
"Tu que tens dez réis de esp’rança e de amor
Grita bem alto que queres viver.
Compra pão e vinho, mas rouba uma flôr:
Tudo o que é belo não é de vender.
Não vendem ondas do mar,
Nem brisa ou estrelas,
Sol ou lua-cheia.
Não vendem moças de amar,
Nem certas janelas
Em dunas de areia.
Canta, canta como uma ave ou um rio,
Dá o teu braço aos que querem sonhar.
Quem trouxer mãos livres ou um assobio
Nem é preciso que saiba cantar.
Tu que crês num mundo maior e melhor
Grita bem alto que o céu ‘stá aqui.
Tu que vês irmãos, só irmãos, em redor
Crê que esse mundo começa por ti.
Traz uma viola, um poema,
Um passo de dança,
Um sonho maduro.
Canta glosando este tema:
Em cada criança
Há um homem puro.
Canta, canta como uma ave ou um rio,
Dá o teu braço aos que querem sonhar.
Quem trouxer mãos livres ou um assobio
Nem é preciso que saiba cantar."
Luis Goes
...Apesar dos números...
Devo agradecer o cravo?
"Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não."
Sophia de Mello Breyner Andresen
"Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
D’África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado
Letra de Sophia de Mello Breyner Andresen
Música de Francisco Fanhais
"Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo.
Teus braços são a flor do aloendro.
Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo.
Teus olhos são da cor do sofrimento.
Amor-país.
Quero cantar-te. Como quem diz:
O nosso amor é sangue. É seiva. E sol. E primavera.
Amor intenso. Amor imenso. Amor instante.
O nosso amor é uma arma. E uma espera.
O nosso amor é um cavalo alucinante.
O nosso amor é um pássaro voando. Mas à toa.
Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa,
Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo.
O nosso amor é como a flor do aloendro.
Deixa-me soltar estas palavras amarradas
Para escrever com sangue o nome que inventei.
Romper. Ganhar a voz duma assentada.
Dizer de ti as coisas que eu não sei.
Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada.
Amor-verdade. Amor-cidade.
Amor-combate. Amor-abril.
Este amor de liberdade."
Joaquim Pessoa
"Letra para um hino
É possível falar sem um nó na garganta.
É possível amar sem que venham proibir.
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.
É possível andar sem olhar para o chão.
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetece dizer não, grita comigo: não!
É possível viver de outro modo.
É possível transformar em arma a tua mão.
É possível viver o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.
Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre, livre, livre."
Manuel alegre
"Baía de Guanabara
Santa Cruz na fortaleza
Está preso Alípio de Freitas
Homem de grande firmeza
Em Maio de mil setenta
Numa casa clandestina
Com campanheira e a filha
Caiu nas garras da CIA
Diz Alípio à nossa gente:
"Quero que saibam aí
Que no Brasil já morreram
Na tortura mais de mil
Ao lado dos explorados
No combate à opressão
Não me importa que me matem
Outros amigos virão"
Lá no sertão nordestino
Terra de tanta pobreza
Com Francisco Julião
Forma as ligas camponesas
Na prisão de Tiradentes
Depois da greve da fome
Em mais de cinco masmorras
Não há tortura que o dome
Fascistas da mesma igualha
(Ao tempo Carlos Lacerda)
Sabei que o povo não falha
Seja aqui ou outra terra
Em Santa Cruz há um monstro
(Só não vê quem não tem vista
Deu sete voltas à terra
Chamaram-lhe imperialista
Baía da Guanabara
Santa Cruz na fortaleza
Está preso Alípio de Freitas
Homem de grande firmeza"
Zeca Afonso
"Balada do Outono
Águas passadas do rio
Meu sono vazio
Não vão acordar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar
Águas do rio correndo
Poentes morrendo
P'ras bandas do mar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar"
José Afonso
“ Balada do Outono” - 1960
Os números identificam as datas, mesmo que de modo trapalhado. Nada carece agradecer.
"de modo trapalhado"...não,de modo subtil,tudo tem um sentido!
Ainda assim, agradeço,não só os cravos,mas também,aos quatro quatro autores deste blog-letras,castro,maio,anjos-o privilégio de vos ler!Muito e muito obrigada!!!
E hoje,dia muito especial,25 de Abril SEMPRE!!!
Digam o que disserem, eu sei que isto é um cravo ou será um monte deles, mas cravos, claro.
Enviar um comentário