"Se te comparo a um dia de verão És por certo mais belo e mais ameno O vento espalha as folhas pelo chão E o tempo do verão é bem pequeno.
Ás vezes brilha o Sol em demasia Outras vezes desmaia com frieza; O que é belo declina num só dia, Na terna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno, E a beleza que tens não perderás; Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás. E enquanto nesta terra houver um ser, Meus versos vivos te farão viver."
William Shakespeare _________________________________ Menina do vestido verde
Menina estás à janela Com o teu cabelo à lua Não me vou daqui embora Sem levar uma prenda tua Sem levar uma prenda tua Sem levar uma prenda dela Com o teu cabelo à lua Menina estás à janela.
Os olhos requerem olhos E os corações corações E os meus requerem os teus Em todas as ocasiões.
Menina estás à janela Com o teu cabelo à lua Não me vou daqui embora Sem levar uma prenda tua Sem levar uma prenda tua Sem levar uma prenda dela Com o teu cabelo à lua Menina estás à janela.
Menina estás à janela Com o teu cabelo à lua Não me vou daqui embora Sem levar uma prenda tua Sem levar uma prenda tua Sem levar uma prenda dela Com o teu cabelo à lua Menina estás à janela.
Menina estás à janela Com o teu cabelo à lua Não me vou daqui embora Sem levar uma prenda tua Sem levar uma prenda tua Sem levar uma prenda dela Com o teu cabelo à lua Menina estás à janela.
"Da mais alta janela da minha casa Com um lenço branco digo adeus Aos meus versos que partem para a Humanidade. E não estou alegre nem triste. Esse é o destino dos versos. Escrevi-os e devo mostrá-los a todos Porque não posso fazer o contrário Como a flor não pode esconder a cor, Nem o rio esconder que corre, Nem a árvore esconder que dá fruto. Ei-los que vão já longe como que na diligência E eu sem querer sinto pena Como uma dor no corpo. Quem sabe quem os terá? Quem sabe a que mãos irão? Flor, colheu-me o meu destino para os olhos. Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas. Rio, o destino da minha água era não ficar em mim. Submeto-me e sinto-me quase alegre, Quase alegre como quem se cansa de estar triste. Ide, ide de mim! Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza. Murcha a flor e o seu pó dura sempre. Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua. Passo e fico, como o Universo."
O azul do céu precipitou-se na janela. Uma vertigem, com certeza. As estrelas, agora, são focos compactos de luz que a transparência variável das vidraças acumula ou dilata. Não cintilam, porém. Chamo um astrólogo amigo: "Então?" "O céu parou. É o fim do mundo". Mas outro amigo, o inventor de jogos, diz-me: "Deixe-o falar. Incline a cabeça para o lado, altere o ângulo de visão". Sigo o conselho: as estrelas rebentam num grande fulgor, os revérberos embatem nos caixilhos que lembram a moldura dum desenho infantil.
Da minha janela Mar alto! Ondas quebradas e vencidas Num soluçar aflito e murmurado... Ovo de gaivotas, leve, imaculado, Como neves nos píncaros nascidas! Sol! Ave a tombar, asas já feridas, Batendo ainda num arfar pausado... Ó meu doce poente torturado Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas! Meu verso de Samain cheio de graça, Inda não és clarão já és luar Como branco lilás que se desfaça! Amor! teu coração trago-o no peito... Pulsa dentro de mim como este mar
"Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!... " Florbela Espanca
"Incline a cabeça para o lado, altere o ângulo de visão"
"Dá-nos os passos os teus passos de manhã triunfal de cidade à solta os gestos que devemos ter quando a alegria descobrir os dedos em que possa viver toda a vertigem que trouxer da noite os primeiros dedos do sonho do teu sonho nosso sonho mantido mesmo no mais íntimo abandono mesmo contra as portas que sobre nós: em silêncio e noite em venenosa ternura em murmúrio e reza se fecharam já mesmo contra os dias vorazes que por todos os lados nos assaltam e consomem mesmo contra o descanso eterno a viagem fácil com que nos ameaçam vigiando todo o percurso do nosso sono interminável sono coração emparedado no muro cruel da vida desta que vivemos que morremos assim esperando assim sonhando sonhando mesmo quando o sonho ignorado recua até ao mais íntimo de cada um de nós e é o gemido sem boca a precária luz que nem aos olhos chega Não digas o teu nome: ele é Esperança vai até aos que sofrem sozinhos à margem dos dias e é a palavra que não escrevem sobre as quatro paredes do tempo o admirável silêncio que os defende ou o sorriso o gesto a lágrima que deixam nas mãos fiéis Não digas o teu nome: quem o não sabe quem não sabe o teu nome de fogo quem o não viu entrar na sua noite de pobre animal doente e tomar conta dela mesmo só pelo espaço de um sonho O teu nome até os objectos o sabem quando nos pedem um uso diferente os objectos tão gastos tão cansados da circulação absurda a que os obrigam As coisas também gritam por ti E as cidades as cidades que morreram na mesma curva exemplar do tempo estão hoje em ti são hoje o teu nome levantam-se contigo na vertigem das ruas no tumulto das praças na espera guerrilheira em que perfilas o teu próprio sono"
Alexandre O´Neill
"....Sigo o conselho: as estrelas rebentam num grande fulgor, os revérberos embatem nos caixilhos que lembram a moldura dum desenho infantil."
6 comentários:
"Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.
Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver."
William Shakespeare
_________________________________
Menina do vestido verde
Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda dela
Com o teu cabelo à lua
Menina estás à janela.
Os olhos requerem olhos
E os corações corações
E os meus requerem os teus
Em todas as ocasiões.
Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda dela
Com o teu cabelo à lua
Menina estás à janela.
Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda dela
Com o teu cabelo à lua
Menina estás à janela.
Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda dela
Com o teu cabelo à lua
Menina estás à janela.
Há-de haver, ou rasgamo-la nós,
Uma janela qualquer
Toda aberta
Que se abra inesperadamente
Para outro futuro!
"Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.
E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.
Quem sabe quem os terá?
Quem sabe a que mãos irão?
Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.
Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo."
Alberto Caeiro
O azul do céu precipitou-se na janela. Uma vertigem, com certeza. As estrelas, agora, são focos compactos de luz que a transparência variável das vidraças acumula ou dilata. Não cintilam, porém.
Chamo um astrólogo amigo:
"Então?"
"O céu parou. É o fim do mundo".
Mas outro amigo, o inventor de jogos, diz-me:
"Deixe-o falar. Incline a cabeça para o lado, altere o ângulo de visão".
Sigo o conselho: as estrelas rebentam num grande fulgor, os revérberos embatem nos caixilhos que lembram a moldura dum desenho infantil.
Carlos de Oliveira, Sobre o lado esquerdo.
Da minha janela
Mar alto! Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito e murmurado...
Ovo de gaivotas, leve, imaculado, Como neves nos píncaros nascidas!
Sol! Ave a tombar, asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado...
Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas!
Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como branco lilás que se desfaça!
Amor! teu coração trago-o no peito...
Pulsa dentro de mim como este mar
"Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!... "
Florbela Espanca
"Incline a cabeça para o lado, altere o ângulo de visão"
"Dá-nos os passos os teus passos
de manhã triunfal de cidade à solta
os gestos que devemos ter
quando a alegria descobrir os dedos
em que possa viver toda a vertigem
que trouxer da noite
os primeiros dedos do sonho
do teu sonho nosso sonho mantido
mesmo no mais íntimo abandono
mesmo contra as portas que sobre nós:
em silêncio e noite
em venenosa ternura
em murmúrio e reza
se fecharam já
mesmo contra os dias vorazes
que por todos os lados nos assaltam
e consomem
mesmo contra o descanso eterno
a viagem fácil
com que nos ameaçam vigiando
todo o percurso do nosso sono
interminável sono coração emparedado
no muro cruel da vida
desta que vivemos que morremos
assim esperando
assim sonhando
sonhando mesmo quando o sonho
ignorado recua até ao mais íntimo de cada um de nós
e é o gemido sem boca
a precária luz que nem aos olhos chega
Não digas o teu nome: ele é Esperança
vai até aos que sofrem sozinhos
à margem dos dias
e é a palavra que não escrevem
sobre as quatro paredes do tempo
o admirável silêncio que os defende
ou o sorriso o gesto a lágrima
que deixam nas mãos fiéis
Não digas o teu nome: quem o não sabe
quem não sabe o teu nome de fogo
quem o não viu entrar na sua noite
de pobre animal doente
e tomar conta dela
mesmo só pelo espaço de um sonho
O teu nome
até os objectos o sabem
quando nos pedem um uso diferente
os objectos tão gastos tão cansados
da circulação absurda a que os obrigam
As coisas também gritam por ti
E as cidades as cidades que morreram
na mesma curva exemplar do tempo
estão hoje em ti são hoje o teu nome
levantam-se contigo na vertigem
das ruas no tumulto das praças
na espera guerrilheira em que perfilas
o teu próprio sono"
Alexandre O´Neill
"....Sigo o conselho: as estrelas rebentam num grande fulgor, os revérberos embatem nos caixilhos que lembram a moldura dum desenho infantil."
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