Ia até ao mercado vender cebolinho,
Logo de manhã, a compitar a aurora
Nos tempos mortos fazia d’adivinho
Entretendo a vista, esperando a hora
Lia os traços nas mãos dos mancebos
Dizia baixinho o que tinham de sorte
Guardando-as na vista e nos enlevos,
Medrosa de destapar rasgos de morte
Até que um dia, estava a feira deserta
Veio um rapaz de olhos cor de laranja
E ela, encadeada no Sol, logo desperta
Disse, Contigo meu coração se arranja
Ficou uma história feliz, vejam só…
Felicidade antes parecida impossível
Pois debaixo do Sol aquece-se o dó,
A confundir o obscuro no que é visível
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7 comentários:
"Lia a sina a cada um
Na palma de cada mão;
Não desgraçava nenhum,
Nem lhe tirava a ilusão.
Toda a donzela paria,
Todo o homem navegava;
E nem a moça sofria,
Nem o rapaz naufragava.
Um amigo em cada linha,
Um triunfo em cada dedo;
Nos seus lábios ia e vinha
A reserva dum segredo.
Não se mostra uma paixão
Tal e qual, à luz do dia;
Cobre-se-lhe o coração
Da rede duma ironia.
Mas quem tem penas no peito,
Entende acenos discretos;
Sabe ficar satisfeito
Com afagos indirectos.
em toda a grande praça
A multidão que a enchia
Vivia daquela graça
E do bem que repartia.
Porque nascera cigana,
Sem fronteira no sorriso,
A sua palavra humana
E ali, mulher, o mostrava
A quem, crédulo o comprava
Pelo preço que valia."
Miguel Torga
"Muito contra o meu desejo,
sem lhe querer dizer porquê,
finjo sempre que não vejo
quem finge que me não vê..."
António Aleixo
"A confundir o obscuro no que é visível"
-"Ficou uma história feliz, vejam só…
Felicidade antes parecida impossível
Pois debaixo do Sol esquece-se o dó"
Puro engano!
"Não se mostra uma paixão
Tal e qual, à luz do dia"
"Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela."
Albert Einstein
...."Felicidade antes parecida impossível"
Fica melhor o dó aquecido, sem dúvida (sem dúvida)
O sentido não era de encobrimento
O "sem dúvida" não é sem dúvida. Claro.
poesia!!!!!!!!!!!
Menino franzino,
quase pequenino,
pequenino, triste,
neste mundo só…
Menino, desiste
De que tenham dó!
Desiste, menino,
Que o mundo é cretino…
Deixa o teu violino,
Toca o sol-e-dó.
Cada teu suspiro
Cai ao chão no pó…
Canta o tiro-liro
Tiro-liro-ló.
Deixa o teu violino,
Que não te é destino.
Desiste, menino,
De que tenham dó!
Menino franzino,
Triste e pequenino,
Pequenino e triste,
Neste mundo só…
Menino, desiste!
Toca o sol-e-dó.
Canta o tiro-liro, repipiro-piro,
Canta o repipiro, tiro-liro-ló.
José Régio
"Sem dúvida,POESIA!!!"
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