sexta-feira, 29 de abril de 2011

árvores na memória

O mundo é essa árvore...
chorão, criptoméria, bétula
onde os traços que riscam o céu
são abraços e renúncias.
nós e novelos. compara-os
aos teus cabelos
onde esta tímida mão
desenhou caracóis e os desfez
(à vez à vez).
Que há além dum gesto,
se a própria sílaba é movimento?
Resta-me o que já tinha,
o teu olhar (d'alento) recordado
e a ânsia do possível
se não há mais.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

serena mente

No vazio dos dias
esgotava o cansaço das corridas
bebia o mar em golfadas de espuma
esquecia o café na mesa de espera
sonhava com o sol em cócegas

e no silêncio com que esperava as horas
deixava de ter lembrança

(28072010)

infâncias

quando agora despertas
para uma fantasia de búzios
podendo trazer de regresso
o sorriso de abafar um berlinde...

o silêncio das casas brinca
aos traços de sol, devolvendo
as tardes aos muros da infância
subidos de bibe manchado
e calções rotos até ao mercúrio dos joelhos

sexta-feira, 15 de abril de 2011

o dia de ontem continua e é quase amanhã. não sei como fatiar o tempo e apartar-me dessa luva que é o teu corpo, anichado ainda na memória e no desejo.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Chegas, agora, com todas as fibras
e olhas os meus olhos como
se fosse possível serem ainda os antigos;
fazes gestos que desaprendi,
e tudo me parece sonâmbulo,
histórias a inventar
- entre sombras e sonhos -
sem que possa galvanizar
as mãos de rugas, e o teu colo
sobre a memória já selada ao desejo
com chaves de fuga e adeus.

Podíamos caminhar num rasto novo
mas os pés ferem as pedras
que uma revolta esquecida
espalhou nos trajectos.

Resta o que sempre resta,
nada sendo; e do vazio
ainda haveremos de retirar
pedaços que a combustão não terminou;
uma imagem amolgada
ficará como o quê
dum tempo sem préstimos.