Tenho pétalas d'areia e espuma
onde o corpo inventou pálpebras (como a outros)
e turvo os olhos no voo do calor que parte;
o sol já se decepou, enforcado
no horizonte em reta linha
duma terra que e teima redonda:
de ti resta-me a silhueta dos ombros
em luta de tons com o escuro a nascer
e o que sobra só reimagino na memória,
daí aos pés, que deixam na areia
lembranças tão suaves, feitas de veludo
como as carícias de uma mão de mãe.
O corpo prostra-se em glória da gravidade
- eppure se muove - em silêncios sem eco,
pois o meu braço há segundos infinitos
deixou de alcançar o laço dum abraço;
no côncavo da rocha despeço-me
do teu resto
e se pudesse triturava-te no caldo da memória
até seres só futuro numa outra.
Amanhã chorarás com o mesmo sal
mas jurarás que não
e eu não sei cantar
Nem Como Canta A Tempestade.
Soubera fazer um poema com a letras do teu corpo
e erguia uma estátua de alfabetos
entre às de beijos carinhosos
e zês de partidas sem adeus.
Ainda há dias o dia caia com o mesmo sobressalto
mas a noite beijava a praia sem medos
e o escuro só enquadrava
os quatros olhos com que dobrávamos o sono.
Se não houvesse tempo não fugias;
e consolo-me, certo que nem tu nem eu
nem os dois
temos ainda culpa da Criação.
(versão "originária" - depois do "aviso" do P.A. - 5.10.2010)
3 comentários:
Muiiiito, intenso!!! Quase que diria ser uma desesperada, mas impossível, tentativa de não fugir ao tempo.
E lá está ela...outros tons, outra e outra vez. Muito bonito!
"Soubera fazer..."
Em grande, meu caro amigo...
Como sempre palavras fortes com um toque doce
Enviar um comentário