O amor e a palavra são crimes sem perdão. E quem pode amar o crime senão o criminoso e, por vezes, devido a um ainda mais apurado talento, ou a uma espécie de acerto no extravio, a sua vítima? O autobiógrafo é a vítima do seu crime. Mas a única graça concedida ao criminoso é o seu próprio crime.
Esta força inóspita que me corrói de dentro e extravasa pelo mundo como uma calcinação.
As montanhas deslocam-se pela energia das palavras, aparecem pessoas, animais, corolas, sítios negros, e os astros crispados pela energia das palavras, cria-se o silêncio pela energia das palavras.
Escrever é perigoso.
(os cadernos imaginários)
Herberto Helder, Photomaton & Vox
1 comentário:
É perigoso, mesmo.
Sublime texto.
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