"O que Deus propõe a Abraão - que ele sacrifique o único filho para demonstrar sua fé - é absurdo e desumano segundo a ética dos homens. Mas não se trata de optar entre códigos de conduta ou escolher entre valores. Abraão é simplesmente colocado diante do incompreensível, ele é o homem perante o infinito. Nesse preciso momento não possui razões para avaliar qual deve ser a sua conduta. Tudo nele está suspenso, salvo a relação com Deus. Abraão ilustra a radical situação do homem religioso. A fé representa um salto, precisamente porque não pode haver transição racional estável, garantida entre o finito e o infinito. A crença é inseparável da angústia, o temor de Deus é inseparável do tremor. Existir é existir diante de Deus, habitar a incompreensibilidade da infinitude divina como os personagens da pintura de Gaspar Friedrich habitam escuridões e abismos."
José Tolentino Mendonça
Apresentação de o Nome e a Forma
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