"Quando, à hora do Jazz a minha cabeça rola pelo tecto pintado do café, a parede em frente é uma visão de escola onde o menino de bibe e gola sonha com aquilo que não é.
E até os criados têm ares purificados como ascetas de um branco ritual. E os mármores das mesas, com desenhos obscenos, surdinam vagas rezas...
E as garrafas dos álcoois e absintos em garbos áticos oferendam viáticos...
E há toalhas e há velas acesas!
E ela vem sempre (só a cabeça dela que o corpo perdeu-o, porventura nalgum quarto escuro de aluguer). Ela vem sempre, como naquele dia, serena e amavia, única e excepcional
Café, Saul Dias (Júlio Maria dos Reis Pereira, irmão de Régio), 1902 - 1983.
2 comentários:
"Quando,
à hora do Jazz
a minha cabeça rola
pelo tecto pintado do café,
a parede em frente é uma visão de escola
onde o menino de bibe e gola
sonha com aquilo que não é.
E até os criados
têm ares purificados
como ascetas de um branco ritual.
E os mármores das mesas,
com desenhos obscenos,
surdinam vagas rezas...
E as garrafas dos álcoois e absintos
em garbos áticos
oferendam viáticos...
E há toalhas e há velas acesas!
E ela vem sempre
(só a cabeça dela
que o corpo
perdeu-o, porventura
nalgum quarto escuro de aluguer).
Ela vem sempre,
como naquele dia, serena e amavia,
única e excepcional
Café, Saul Dias (Júlio Maria dos Reis Pereira, irmão de Régio), 1902 - 1983.
Palpitam-me
os sons do batuque
e os ritmos melancólicos do blue.
Ó negro esfarrapado
do Harlem
ó dançarino de Chicago
ó negro servidor do South
Ó negro de África
negros de todo o mundo
eu junto ao vosso magnífico canto
a minha pobre voz
os meus humildes ritmos.
Eu vos acompanho
pelas emaranhadas áfricas
do nosso Rumo
Eu vos sinto
negros de todo o mundo
eu vivo a nossa história
meus irmãos.
Voz de Sangue, Agostinho Neto (1922 - 1979)
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