O silêncio é a minha maior tentação. As
palavras, esse vício ocidental, estão gastas,
envelhecidas, envilecidas. Fatigam, exas-
peram. E mentem, separam, ferem. Tam-
bém apaziguam, é certo, mas é tão raro!
Por cada palavra que chega até nós, ainda
quente das entranhas do ser, quanta baba
nos escorre em cima a fingir de música su-
prema! A plenitude do silêncio só os ori -
entais a conhecem. Lao Tsé ensinou que
quem sabe não fala, e quem fala não sabe.
E Bashô, com um cânone de apenas dezas-
sete sílabas, fez uma das mais explêndidas
poesias de que há memória. É da tentação
do silêncio, da apetência do silêncio, da
condenação ao silêncio que falam todos os
meus "afluentes", em prosa ou em verso.
Eugénio de Andrade (in Alberto Pimenta, O Silêncio dos Poetas)
1 comentário:
A um Amigo Maio, cor do feno com que visto os meus dias, um abraço pascal
CPS
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