As balas e as pedras têm sede
de mutilar o corpo e a vidraça.
É em litros de sangue que se mede
a coragem de lutar contra a desgraça.
Se um cão apodrece entre as begónias
ou um cravo cresce à força de ter estrume
as formigas formam núcleos e colónias
onde é proibido à noite fazer lume.
Amarram-se as cigarras à surpresa
de ter na voz a voz do povo acesa
e acende-se a coragem amarrada.
Revoltam-se as palavras nos poemas
quebrando frases feitas e algemas
em nome da tristeza revoltada.
Joaquim Pessoa, Português Suave
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4 comentários:
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Valete, Fratres
Fernando Pessoa, o próprio
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa, o próprio, mas já sem ser o mesmo.
Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro,
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.
Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.
Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.
Confunde-me o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste,
Mas triste é o que estou.
Fernando Pessoa, o próprio ou ortónimo, ou como quiserem os críticos, alguns que até sabem poesia...
talvez depois do IVV
Agradeço à pastelaria e ao café (!!!) o gosto do bom gosto.
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