domingo, 7 de dezembro de 2008

Que a palavra continue, escrevendo-se

A tradução de Um Mundo Estranho, o primeiro livro de Oliverio Macías Álvarez (nascido no México em Janeiro de 1971) foi feita pelo poeta José Agostinho Baptista, que introduz o seu trabalho - e, naturalmente, a obra daquele - desta forma tão bela:
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«Quis o destino - ainda creio que é essa a vaga e inacessível entidade o que conduz as nossa pobres vidas - que encontrasse Oliverio à esquina de uma noite nos bairros altos da solidão. Mas não podia imaginar, então, que muito secretamente, no fundo da sua alma nobre e mexicana, se escondiam páginas de uma comovida e delicada beleza que de vez em quando me faz reconciliar com a literatura. Traduzi esta inesperada dádiva que veio de tão longe para tão perto do pensamento e do coração, com todo o meu amor pelo Homem e pela Palavra.
Que esse homem e essa palavra continuem a caminhar generosamente pelo mundo, escrevendo-se.»

1 comentário:

AugustoMaio disse...

José Agostinho Baptista é natural do Funchal, onde nasceu em 1948. É poeta e tradutor de poetas. Entre as suas obras contam-se Deste lado Onde (1976 - Assírio & Alvim), Debaixo do Azul sobre o Vulcão (edição do autor - 1995), Agora e na Hora da Nossa Morte (1998, Assírio & Alvim), Biografia (2000, Assírio & Alvim), Afectos (2002, Assírio e Alvim) e Anjos Caídos (2003, Assírio & Alvim).

Deste último, RECOMEÇO:

Recomeço a partir de muito pouco,
nesta prais onde a areia, húmida e
sombria, erguida do sono,
se esvai por entre os meus dedos perdidos.
recomeço a partir de uma única palavra,
de um ínfimo sinal que vi gravado nos
muros da tua cidade em ruínas.
Aí, nessa cal desaparecida,
vi, um dia, um pássaro imóvel, quase vivo,
com os olhos trespassados pelas agulhas do
tempo,
inclinar-se e cair sobre as pedras mudas,
e esse pássaro eras tu,
ferida de morte,
afastando as lágrimas em vão.