sexta-feira, 17 de outubro de 2008

"É o inconcebível infinito o seu puro nada / que nas palavras ressoa com a incandescência do ser"

António Ramos Rosa nasceu em Faro em 17 de Outubro de 1924. É um enorme poeta português.

A palavra é uma estátua submersa, um leopardo
que estremece em escuros bosques, uma anémona
sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela
que projecta a sua sombra sobre um torso.
Ei-la sem destino no clamor da noite,
cega e nua, mas vibrante de desejo
como uma magnólia molhada. Rápida é a boca
que apenas aflora os raios de uma outra luz.
Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes
e vejo uma água límpida numa concha marinha.
É sempre um corpo amante e fugidio
que canta num mar musical o sangue das vogais.

A palavra, Acordes, 1989

3 comentários:

Ricardo Mendonça disse...

Obrigado pelo comentário...
Abraço!

Marta Vasil (pseud.de Rita Carrapato) disse...

Um poema lindíssimo de um dos meu poetas preferidos.
Que bom foi lê-lo e reter o sabor para regurgitar durante o fim de semana.

MV

mareiro disse...

o meu conterrâneo, essa figura que na minha meninice me inspirou, abrindo-me a mim, e a mais uns quantos jovens, a porta da poesia.
ele, o casimiro, o herberto, o gastão... faro fervilhava em poesia e em conspiração contra o regime.
deu o seu nome à biblioteca da cidade. deu o seu talento, a sua sensibilidade e a sua humanidade ao mundo, assim este o quisesse ler ou escutar, pelas vozes de quem o declama.
a mais curvada vénia a este post.