O mar do Algarve é feito de cartão como nos cenários de teatro e os ingleses não percebem: estendem conscienciosamente as toalhas na serradura da areia, protegem-se com óculos escuros do sol de papel, passeiam encantados no palco de Albufeira em que funcionários públicos, disfarçados de hippies de carnaval, lhes impingem, acocorados no chão, colares marroquinos fabricados em segredo pela junta de turismo, e acabam por ancorar ao fim da tarde em esplanadas postiças, onde servem bebidas inventadas em copos que não existem, as quais deixam na boca o sabor sem gosto dos uísques fornecidos aos figurantes durante os dramas da televisão.
António Lobo Antunes (1.09.1942)
3 comentários:
é verdade! albufeira não precisa do verão para nos dar o conhecimento do inferno. é assim todo o ano, ou quase...
Assim, que o calor aperta,
A praia que estava deserta,
Veste-se de toalhas garridas.
E observo do passeio
(Não digo "espreito" que é feio)
As moças mais atrevidas.
Tinha notado que, às vezes, agarram-se um limos quando andamos nos banhos: afinal, está dada a explicação e pela pena (suave?) do sabedor Lobo Antunes: será o cartão que se vai desfazendo!
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