Diante da cal de uma parede que nada
nos impede de imaginar infinita
sentou-se um homem que premedita
traçar com rigorosa pincelada
na branca parede o mundo inteiro:
portas, balanças, sedimentos, jacintos,
anjos, bibliotecas, labirintos,
âncoras, Uxmal, o infinito, o zero.
Povoa de formas a parede. A sorte,
que em curiosos dons não é avara,
permite-lhe dar fim à sua porfia.
No preciso instante da morte
descobre que essa vasta algaravia
de linhas é a imagem da sua cara.
Jorge Luís Borges, Os Conjurados
(trad. M. Piedade Ferreira e Salvato T. de Meneses)
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
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2 comentários:
Esta soma é absolutamente soberba!
Soberda é muito bem dito. Repito.
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