Deixa-me juntar os lábios ao teu respirar
Deixa-me espreitar, e ver-te, dormitando
Que na vista fica um desenho de encantar
Com tons d’amor com que te vou pintando
Não acordes, Sereia, que não vemos o mar
Temos dele uma ideia, mas é do tempo ido
Quando nos dizíamos, Haveremos de voar
(e, olha, eu agora sei que isso foi cumprido)
Cada qual galgando nas asas do outro
Loopings em glória, traços da certeza
De o pensar de novo, de novo absorto
Olho-te o encanto a encarnares beleza
Se pudera pintar o gesto que nem fazes
(escasso era o arco íris que então faria):
A cor que futurava na idade dos rapazes
Milhões de luzes não diriam o que sentia
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9 comentários:
Belas cores e belo poema
Muito delicado e intimista.
Tenho a sensação, ainda que abstracta, que o poema tem um receptor concreto e multicolor que cumpriu o sonho do artista.
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
à cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Conta a lenda que dormia...
Fernando Pessoa
A dormitar, assim cheia de cor e luz.
Bem.
Que o colorido do mote é imaginativo e...hilariante,lá isso é!!!
Pela inspiração e talento,há que felicitar o autor e a sua pena!
Palavras ( e respectiva pena ) que saltitam de cores e de reflexos. Um bom ritmo.
E alegre ou pelo menos sem o dramatismo de outros.
Mas com essa pena ambigua e aveludada, as certezas diluem-se e a empatia não se instala.
E já agora... Vale a pena pensar nisto!
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