Escrever assim…
escrever sem arte,
sem cuidado,
sem estilo,
sem nobreza,
nem lindeza…
sem maior concentração,
sem grandes pensamentos,
sem belas comparações,
não será escrever!
Mas assim me apetece,
que o entendam ou não,
que o admitam ou não,
escrever…
entender
o delgado, esfiado,
inoperante
pensamento.
Este pensar
não é actuar mentalmente,
sequer,
é descansar…
Estive deitada,
e agora estou sentada.
Deitada via as nuvens,
brancas do sol,
brilhantes,
enoveladas.
Tanta brancura
à frente dos meus olhos!
Afogava-me nela.
De que me lembrava?
Nem eu já sei.
As ideias do dia,
picadas sem dor,
a que sorria,
como apareciam, desapareciam…
Realmente,
só na hora,
no pleno instante
de nos assaltarem,
frescas e imprevistas,
têm o seu sabor.
Deitada,
com a luz nos olhos,
sonhava… sei que sonhava…
na única coisa em que se sonha,
na única em que se pensa,
naquela que é a trama,
o fundo ora baço,
ora vivo,
persistente e teimoso,
das nossas preocupações…
Antes ensaiei vestidos,
mas todos usados…
Vestidos de verão,
leves,
remoçantes,
que dá gosto ensaiar.
É uma experiência que se faz…
Vemo-nos ao espelho
e ele que nos diz?
Tudo o que desejamos
e também o que receamos…
Que me diz o espelho?
Fala-me dos olhos
fala-me do corpo,
engana-me…
Mas também me diz,
tantas vezes!:
nada esperes,
és tola.
Ai que podem os vestidos,
que podem os espelhos?
Tempo!
Tu é que tens a última palavra!
Corres,
e, sem dó, tudo inutilizas.
Bem hajas!
Inutiliza! Mas não demores!
Destrói! Mata!
Que o pior mal,
de todos o pior,
é esperar,
sempre esperar.
IRENE LISBOA
Outro Dia, Um dia e outro dia…
quinta-feira, 24 de abril de 2008
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13 comentários:
Tu Já Não és Tu
por Toy
Não digas nada, eu percebo nos teus olhos que acabou,
A luz do teu amor já se apagou, e nunca mais acende para mim;
Não digas nada, basta ver a tua pressa de sair,
se quero conversar, queres partir, eu tenho que
aceitar, chegou o fim....
Tu, já não és tu, o teu olhar mudou, o mar secou e o sol escondeu-se atrás de ti;
Tu, ja não és tu, ja não sorrís pra mim, não era
assim, esse brilho no olhar quando chegavas, a ternura e o calor quando beijavas, estás diferente, tu já não
és tu...
Não faças nada, basta apenas confirmar o que eu senti,
que tu deixaste de gostar de mim, eu vou desaparecer, não volto mais...
Não tenhas medo, eu percebo, nunca fui o grande amor,
quem sabe foi apenas um favor, que eu agradeço, foi lindo demais...
Tu, já não és tu, o teu olhar mudou, o mar secou e o sol escondeu-se atras de ti;
Tu, já não és tu, já não sorris pra mim, não era
assim, esse brilho no olhar quando chegavas, a
ternura e o calor quando beijavas, estás diferente, tu já não és tu...
Diria o outro, o de terras de Vera-Cruz que, na mistura de Toy com Irene Lisboa, o "administrador é frouxo"...
Toy não é poesia?
Sempre a publicar!
Ora aí está. Quem o não é?
Eu não sou. De certeza.
Obrigado por este confronto de ideias (sem ofensa para todos os irmãos idealistas, claro)
Mas eu sou pacifista. Não confronto.
"que se coloquem as ideias em paralelo e, gritando lado a lado, evitem o confronto inesperado"
Anónimo, Séc. II
E a reportagem de hoje, do Tony Carreira? Quid iuris, hein?
"A alma só é bela pela inteligência, e as outras coisas, tanto nas acções como nas intenções, só são belas pela alma que lhes dá a forma da beleza".
- Tratado das Enéadas
Então havia a reportagem. Bem lembrado, a. v.c. e eu ando á demanda de uma poesia francesa que vi por aí!!
Mas não digas a ninguém.
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