Falas muito
de silêncio, nos
teus livros, como
alguém que jejua
entregue a lautos
banquetes. É essa
a contradição do poema. Nasce
para a mudez, mas
como a música, respira
por sons.
INÊS LOURENÇO
Silêncio, Magma n.º 1 (2005)
quinta-feira, 17 de abril de 2008
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4 comentários:
"O silêncio instala-se. Subo ao palco.
Assomando a uma porta aberta
Tento ouvir no eco
O que o futuro me reserva.
Mil binóculos apontam para mim,
No escuro, à queima-roupa.
Abba, meu pai, se puderes,
Afasta de mim este cálice.
Respeito o teu desígnio
E estou pronto a desempenhar este papel.
Mas o drama em cena não é o meu.
Dispensa-me, por esta vez.
Porém, a ordem dos actos é inabalável,
E é já conhecido o desenlace.
Estou só diante dos fariseus.
A vida não é a travessia de um campo.
Boris Pasternak, Doutor Jívago
(trad. João Duarte Rodrigues,Foro das Letras, 9/10)
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Livro sexto / Sophia de Mello Breyner Andresen
É doce o teu silêncio;
deixa dizer o que penso
(sem palavras)
...
Le mot, qu'on le sache, est un être vivant... le mot est le verbe, et le verbe est Dieu
Victor Hugo
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