Quando se sentava na cadeira de lona, ao fim das tardes de Sábado, pedia sempre um gin puro, a caneta preta e aquele bloco quadriculado, esfiapado, onde escondia as memórias. Dizia-me em voz baixa, enquanto olhava o Douro a esticar-se, que algum poema lhe atravessaria a lembrança e receava deixá-lo voar da memória, sem a gaiola do traço. Sábados a fio esperei olhar-lhe o resultado e, muitos anos mais tarde, bem depois de ter partido, quando a coragem me permitiu espreitar os rascunhos, siderei na contemplação: este não guardo; este deixo ir; não o aprisiono...
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1 comentário:
O Douro tem uma corrente forte, como a rudeza das gentes e, em cada lanço de olhar, escrevem-se poemas infindos, calcorreando socalcos e declives; num aroma de vinho casto, mas impiedoso.
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