tag:blogger.com,1999:blog-4994057913023163265.post6089558535359113088..comments2023-09-17T09:49:30.781+01:00Comments on penasuave: Puro Vintage VIAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/02042462599118159389noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-4994057913023163265.post-1195141926778755042008-12-11T22:28:00.000+00:002008-12-11T22:28:00.000+00:00O dia quase despontava. Frio e orvalhado, com ping...O dia quase despontava. Frio e orvalhado, com pingentes de neve no rebordo das telhas e fiapos de vidro de água nos ramos das árvores.<BR/>Apenas Gaspar, resfolegando embora, mantinha a aparência de alguma realeza africana, lustroso de brilho e orgulhoso da sua pele. Derreado da jornada e da trepidação da dromedagem, Baltazar ressonava alto, encostado ao feno, enquanto Belchior, magnificente quando acordado, parecia agora um farrapo de gente amarrotado de sedas de carmim.<BR/>Também os pastores, vencidos pelo sono e pelo esplendor da adoração, se quedaram no estábulo, dormitando e sonhando, talvez com um rei que os sentasse à sua mesa. <BR/>A noite fora intensa com tantas declarações de júbilo e protestos de felicidade como em nenhuma corte se vira antes e a invernia apanhara desprevenidos todos aqueles a quem o entusiasmo fizera perder a noção do tempo, julgando estarem a pisar a primeira réstia da eternidade. <BR/>O pequeno, de olhos abertos, mirava tudo com inteira atenção e foi demorando olhar por sobre o brilho das prendas... <BR/>Numa agilidade insuspeita deslizou pelas palhas até ao chão e, nuzito de todo, gatinhou até ao pote da mirra, enfiou nele o dedo que se besuntou de imediato e, levando-o às virilhas, sossegou o ardor, que ali sentia, soprando espevitado sobre o vermelhão da queimagem.<BR/>Sorria agora num aliviado contentamento e agradeceu numa garatuja da face àquele colosso de barbas a lembrança que tivera em lhe trazer o unguento.<BR/>Abriu as bochechas num sorriso largo e avançou de pronto para a caixa do incenso enterrando nela a ponta do nariz, satisfeito com aquele aroma de noite de festa e, de repente, o empastado do ar onde um cheiro ecuménico a homem e a bicho entumecia as narinas, dissipou-se numa elevação que de novo permitia que os sentidos sossegassem deixando de estar cativos do olfacto.<BR/>Também este outro sábio meão, quadrado e hirsuto soubera bem escolher a sua prenda. <BR/>Mesmo ali ao lado, a refulgência do ouro alumiou-lhe o negro dos olhos e gatinhando até ele, percebeu como o esplendor e a cegueira podem estar tão juntas, já que aquilo que convida à dádiva pode ser tentação de a usura e a avareza. <BR/>Mas mais que ouro aquele dourado das correntes e argolas era um convite à realeza e como tal o aceitou. <BR/>Consumido nas suas reflexões olhou para o lado e viu, saindo do bolso de um pastor adormecido, uma baraça esgaçada, com um nó na ponta, e sem se deter em conjecturas foi-a puxando até do forro se ter despregado um pião gasto e rombo.<BR/>Caramba, pensou ele, que nagalho imenso devem ter usado para porem a girar a terra nesta tontura de voltas incensadas.<BR/>Espreitou ainda lá para dentro daquela lura de pano, de onde saíra tamanha revelação e, metendo por ela a mãozita de dedos sapudos e rosados, tirou lá das profundezas um pedaço de centeio escuro e duro em que fincou as gengivas tenras e roeu o miolo num comprazimento principesco. <BR/>Olhou de novo aqueles reis todos, aqueles presentes todos e soube que naquele momento, em que tudo dormia, teria que escolher sobre qual das dádivas construiria o seu reino mas não hesitou. Pegou no pão que sobrara, repartiu-o com a força dos seus dedos recém nados, e foi depositar no bolso de cada um pedaço, que mais que uma oferenda para saciar qualquer fome, era e continua a ser ainda o compromisso e a lembrança que nenhum homem é rei enquanto o seu semelhante não tiver pão e nenhum Deus é verdadeiro enquanto não lembrar ás gentes que o caminho da fé e da esperança se conquista na capacidade que vamos tendo de alimentar o próximo. <BR/>Dizem que depois da alvorada todos acordaram e foram contentes para os seus destinos e que nem o pastor suspeitou que por um instante fora rei, embora tenha estranhado, quando jogou de novo o pião, que ele rodava com um esplendor de astro azul e que rodando lhe aquecia o coração e apaziguava a fome.Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4994057913023163265.post-64623260650621288622008-12-11T21:51:00.000+00:002008-12-11T21:51:00.000+00:00Ser criança é, realmente, a idade do encontro com ...Ser criança é, realmente, a idade do encontro com a magia e, com sorte, com a felicidade...<BR/>Puro Vintage mesmo...Passiflora Maréhttps://www.blogger.com/profile/09224078438968175100noreply@blogger.com