tag:blogger.com,1999:blog-4994057913023163265.post5551412419521674773..comments2023-09-17T09:49:30.781+01:00Comments on penasuave: A Senhora Sem Nome e a Outra SenhoraAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/02042462599118159389noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-4994057913023163265.post-46517295284936002572008-11-20T15:01:00.000+00:002008-11-20T15:01:00.000+00:00(antes das teorias...)"-Sabe, doutor Almeida, a vi...(antes das teorias...)<BR/><BR/>"-Sabe, doutor Almeida, a vida é um dia de cada vez e só nos ensina o que serve a esse momento: temos o estojo, é verdade, a paleta, mas a cada hora o céu ganha tons diferentes: se não soubermos misturar as cores, sai sujeira na pintura. Só que, e aí é que está o drama, não podemos misturá-las antes de olhar o céu. Vou-lhe contar o meu primeiro julgamento; o doutor Fernandes – e levando no olhar uma firme solicitação de aval, fixou pausadamente o sossegado colega – já conhece o sucedido.<BR/>(...) <BR/>-Foi exactamente o meu primeiro, a primeira ocasião que ia estar sozinho, dispensando tutor ou muleta. Era naturalmente um caso simples, meticulosamente escolhido como o mais simples, para o iniciado brilhar. Uma simples desobediência e, juridicamente pensando, uma desobediência simples. A acusada percorria as ruas mais estreitas da Baixa, com preferência pela horas soturnas da noite; ganhava a jorna como o corpo lhe ensinou e a circunstância lhe foi impondo. Se tinha chulo, não vinha ao caso... naquele concreto caso. No dia em causa, ainda que já escuro, a autoridade administrativa, presente, zelosa e devidamente fardada, sustou-a em zona pública e, certamente à falta de qualquer outra gravidade, solicitou-lhe a identificação. A polícia, vá-se lá ter a certeza do porquê, pretendia saber o nome completo, filiação e todos os demais itens e adereços da sujeita, já que, quanto à actividade propriamente dita, julgava-se perfeitamente sabedora. Muito bem ... acontece que a cidadã se recusou: que não se identificava e sequer tinha – ao menos junto a si – cartão próprio e bastante. A autoridade cumpriu com as normas e deteve a desobediente. Transportada à esquadra manteve o propósito inicial, ignorando nova ordem dos agentes, ordem clara e séria, repetida pelo graduado do posto, destinada a saber quem era e, muito além disso, a que o comprovasse.<BR/>O juiz-presidente ia recordando a história, anciã de recontada, mas invariavelmente servida com acrescentos propositados ao cimentar do interesse. Prosseguiu a empresa depois de um reajuste dorsal, quase subliminar:<BR/>-Ao final da manhã compareceu na comarca para que justiça fosse feita. O processo estava pronto, de tão simples que se mostrava, e só havia que a ouvir, certamente confessava, uns dias de multa em dose adequadamente baixa e ... caso arrumado. Vinha mesmo a calhar pois também eu estava na calha: era a altura da minha primeira vez. Certificada a simplicidade, lá fui, sozinho mas firme, vestido do preto virgem que escondia a gravata festiva. Tudo augurava um êxito primogénito: o Delegado do Procurador da República cumprimentou-me como a um ex-caloiro e o meu mestre sossegava-se ao fundo da sala, certo da inegável competência do seu pupilo: ao fim de tanto mês de estágio, quase se envergonhava de caso tão simplório. Comecei o julgamento com a solenidade de um perito, como qualquer outro começaria: que era obrigada a responder às perguntas relativas à identificação, e fazê-lo sob pena de desobediência, naturalmente. Depois solicitei-lhe o nome.<BR/>O juiz-presidente parou o relato e olhou o juiz mais novo, confirmando que o enredo não estava a ser adivinhado. Assim era: do juiz mais novo, visivelmente perplexo pela pompa da narrativa na definhez da dificuldade, só a espera transparecia.<BR/>-Aí, doutor Almeida, foi o bom e o bonito: a cidadã olhou-me sem pudor, como que sabendo ao que vinha e, sem mais nem outros dizeres, retorquiu-me que não tinha nome ou, que se o tinha, perdera-o e não pretendia dizer-mo.<BR/>-Outra desobediência – concluiu presto o juiz mais novo, entoando na sala toda a velocidade terminal dos raciocínios jurídicos, especialmente de cariz penal - ... estava a praticar outro crime.<BR/>-Quem, doutor Almeida?<BR/>-A arguida, claro!<BR/>-Claro?! A arguida nem tinha nome, doutor Almeida.<BR/>-Havia de tê-lo ... toda a gente o tem; quando se descobrisse apanhava pelos dois.<BR/>(...)<BR/>-Dois ... pelo menos, doutor Almeida, já que nós íamos eternizando o número, em sucessivas tentativas de saber quem a pessoa era!<BR/>-Pois ... podia ser um só crime, mas um crime continuado: ela não dizia o nome e a situação de incumprimento da ordem ia-se mantendo..."Unknownhttps://www.blogger.com/profile/17416142856376140446noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4994057913023163265.post-46096203880483879672008-11-19T17:22:00.000+00:002008-11-19T17:22:00.000+00:00Bravo, a apreensão da ténue linha do equilíbrio, q...Bravo, a apreensão da ténue linha do equilíbrio, que passa por todos os obstáculos sem partir, é a função primeira de qualquer juíz- presidente de primeira grandeza.<BR/>Belíssimo!Passiflora Maréhttps://www.blogger.com/profile/09224078438968175100noreply@blogger.com